Titãs

Pela noite adentro, os meus olhos se tornavam num imenso campo de batalha para os mais grandiosos dos titãs.
João Pestana semeava carinhosa e enganosamente, nos cantos dos meus olhos, uma areia tão sedutora e fina como pó-de-talco, alegremente ele coloca pesos, gradualmente, nas minhas longas e frágeis pestanas que, calorosamente, aceitam o convite traiçoeiro do mago. Alertado, o Amor acorda do seu profundo sono. Enfurecido, quebra as grades da jaula que o aprisiona e vem para tornar-se dono do território neutro. Bruto, como a sua natureza, o gigante escarra no olho do mago e atira-o ao chão, impiedosamente. Em seguida, reúne todas as suas froças e, poderoso como Atlas, ergue as minhas pálpebras. Sinto a dor no coração e fico cego, cego pelo Amor.
Está tudo longe. Devagar, tento imaginar o que faz o meu ente desejado, o que faz o meu outro? Imagino-a de pijama, deitada na cama, a ler um livro ou um jornal ou uma revista. Lendo os clássicos talvez, as novidades ou talvez a nova moda: que saia comprar, que vestido levar no sábado, que tom de batom fica-lhe melhor.
Não sei.
Vou pensar que esteja a pensar em mim.
Não vejo o tempo passar,
não oiço o telefone tocar,
não sinto meu coração queimar.
Heh...
Tarde como sempre, vem a Razão ao resgate e, com um mero sopro de lógica, desfaz os feitiços emanados em mim, desfaz a magia, leva ao chão os pesos suavez e leva, para longe o Amor e o mago João sem lhes dar alguma hipótese.
(Mas o meu coração já esta demasiado ferido, dorido, já sofreu queimaduras irreversíveis. Um dia ele há de sarar, mas, tal como negativo, depois de violado, nunca mais será o mesmo.)
A chuva ja parou. Parece que a lua escondeu-se nas núvens de vez. O tal vidro velho está coberto por gotas e embaçado pela minha respiração...
Foi tudo um mero sonho?
by Princesa Sisi
(Nota: João Pestana é o person. que tráz o sono; equiv. ao Sandman; uma derivação de Morfeu)