Saturday, February 25, 2006

Am I Guilty?

Na minha cama, deitado, estou a olhar para uma fotografia do "World Trade Center" (WTC), a preto e branco, ardendo. É, sem dúvida, uma magnífica fotografia, não posso deixar de ser absorvido pela imagem, é bela, é viciante.
Eu deveria ter vergonha por estar a pensar assim?

Uma vez ouvi que a fotografia não passa de uma representação do bem ou do belo, que ela apenas transforma algo horrível em algo bonito. Suponho que seja verdade, embora não total. Afinal é só um momento captado para sempre. A imagem ficou presa entre quatro cantos, ela não nos mostra o que acontece fora desses limites, não mostra o que está por fora e à volta e isso desperta curiosidade em nós.

O contraste de preto e branco é lindíssimo. Faz-me lembrar do Barroco.

A foto quase que tem relevo, mas esta captura não mostra o que está por trás; o tempo gasto para a pessoa se maquilhar; a memória que ela desenterrou para chorar. Não mostra as discuções com o fotografo e, no caso desta foto que está à minha frente, não mostra o panico das pessoas no avião; não mostra o espanto e o medo dos trabalhadores do "WTC"; não mostra o sofrimento nas horas de desespero; não mostra aqueles que tentam escapar, em chamas, com vida; não mosta a cara do homem que pouco depois saltou para o seu fim.


estas imagens não passam de sutiãs infláveis, unhas falsas, não passam de um pensamento cínico, não passam de uma maquilhagem bem feita. Por isso quando perguntam-me se tenho vergonha dos meus pensamentos, não tenho escolha a não ser dizer: Sim

by Princesa Sisi

13 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Carlos, você é a Princesa Sisi?

7:57 PM  
Anonymous Anonymous said...

Percebo a tua angústia, mas não creio que tenhas razão. Esta foto não tem nada de cínica ou de maquilhagem. Esta foto é um símbolo. Como a foto do cogumelo de Hiroshima: não mostra a cidade arrasada, as pessoas queimadas ou a correr a esmo e em pânico, nem, mais ainda, os bastidores políticos que levaram a detonar a bomba, ou o estado de espírito de quem documentou a cena. Mostra apenas aquele cogumelo luminoso e mortal, detonado pouco antes de tocar o solo. Porém é um símbolo que, na sua beleza estética e na sua aparente limpeza, resume um momento de uma das maiores tragédias da humanidade.

9:28 PM  
Blogger Princesa Sisi said...

sim, mas não deixa de ser belo. E nunca viste as pessoas a arder em agonia ou as deformações que sofreram pois não? Apenas viste um cogumelo. Horrível. Nós não temos noção das coisas. Infelizmente precisamos vive-las pra saber como é. Ou vão me dizer que sabem como é ver, litralmente, o apocalypse?

1:03 AM  
Blogger Princesa Sisi said...

Sim sou eu a Princesa Sisi, a única :P

1:04 AM  
Anonymous Anonymous said...

Carluxo...
meu critico preferido..
=)
aodro seus textos!

beijaooo saudades

1:49 AM  
Anonymous Anonymous said...

Sim, é belo, por isso eu disse da beleza estética da rosa de Hiroshima. É belo, mas evoca uma tragédia. Foi o que eu quis dizer. E não é por não mostrar a agonia das pessoas que essas imagens silenciosas têm menos impacto. Cansamos de ver imagens terríveis, algumas que também viraram símbolo - a menina vietnamita nua fugindo da aldeia bombardeada com napalm, os cadáveres amontoados nos campos de concentração, os sobreviventes esquálidos aguardando o resgate, crianças africanas cheias de moscas à beira da morte, crianças iraquianas queimadas e mutiladas nos hospitais superlotados. As imagens que expõem o horror se multiplicam, e nem por isso podemos sentir aquela dor, porque, de facto, como dizes, isso é impossível: só quem passou por aquilo é que sabe. Porém isso é válido para qualquer situação, e ainda que vivamos o drama, tampouco poderemos dizer que sabemos "como é": podemos apenas saber "como é" para nós. Talvez este seja um limite inescapável do nosso conhecimento.

Mas há uma diferença entre sentir e compreender. Não precisamos sofrer o flagelo da fome, da miséria ou da guerra para saber que é preciso condená-lo, e este é o campo da acção política, das práticas colectivas, que se colocam num campo distinto do da percepção sensorial.

11:23 AM  
Blogger Princesa Sisi said...

Por alguma razão eu sinto que todos deviam passar por aquelas situações. Ou que elas nunca tivessem existido. Os EUA bombardearam cidades no Japão violentamente para comemorar os X anos da existência da força aérea... Resultado, milhares de mortos.
Belo hien

12:39 PM  
Anonymous Anonymous said...

Que essas situações nunca tivessem existido! Que essas situações nunca mais existam, que o mundo seja diferente, melhor - ou menos pior - do que é: é em nome disso que tanta gente se anima a viver. Uma espécie de tarefa de Sísifo, sem dúvida, porque a história da humanidade está sempre no limiar da barbárie, não é?

1:18 PM  
Blogger Princesa Sisi said...

Somos uns porcos e, em relação ao post anterior, criámos um deus à nossa semelhança. Não foi o contrário. Depois tornamo-nos tão hipócritas que fomos escrever o novo testamento... Cavamos as nossas próprias cóvas.
Recomendo ler The Hitchhickers Guide to The Galaxy.
É mais uma de mil maneiras de vermos as coisas.

1:28 PM  
Anonymous Anonymous said...

Bem, eu não teria um julgamento tão negativo da nossa espécie. Somos capazes do pior e do melhor (tantos já o disseram, e no entanto é verdade). De facto criámos deuses à nossa semelhança, como forma de nos consolarmos, ou de nos justificarmos. Vou anotar a recomendação de leitura, e retribuo com a sugestão de audição da Rosa de Hiroshima, pequeno poema do Vinícius de Moraes que ficou famoso na voz do Ney Matogrosso, ainda nos tempos do falecido Secos & Molhados. Fui procurar e vi que está disponível em http://secos-e-molhados.letras.terra.com.br/letras/48769/.

É uma balada suave, a antítese da tragédia que o poema relata.

2:08 PM  
Anonymous Anonymous said...

rapaaz
o.o
adorei!
ehauiaiea
beerjos!

3:24 PM  
Anonymous Anonymous said...

Eu tbm acho que são sutiãs infláveis, pá. Vc não está sozinho nesse mundo disfarçado de rosa e verde.

12:29 AM  
Anonymous Anonymous said...

adorei o blog.
a.braga

10:33 PM  

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